Carnaval, telejornais denunciando a fome, festas de aniversário, políticos que se tornarão inimigos do povo, aumento salarial, diminuição da inflação – só se Deus quiser -, trabalho, estudo, carência afetiva, promessas, lançamentos de livros, novela das sete e das oito, esperança.
Um ano de frases sem sentido, daquelas que apelam para o nosso coração e nos fazem remeter cheques ou um nota boba de cinco mil cruzeiros pelo correio.
Um ano de aventuras: até o meio dele, estaremos celebrando a boa nova da mudança, a inteligência de não sei quem, a sinceridade de tal pessoa. Do meio ao final, nos sentiremos praticamente purificados pelo sofrimento, comentando abertamente o nosso desespero e arrependimento por não ter visto antes quem era aquele “não sei quem”; abriremos as portas do coração e denunciaremos que não acreditamos em mais nada.
Tudo em vão.
No próximo ano, será a mesma coisa, o teatrão, a vitória do time, a chantagem emocional, o metrô fechando as suas portas e deixando bolsas e dedos para o lado de fora.
1985, um ano de alegrias múltiplas: trens, bondes, aviões, bicicletas e carrinhos de rolemã.
Fevereiro/1985