O Natal é o símbolo da fé cristã, dia em que comemoramos o nascimento de Jesus, o Cristo. Filho de Deus, Ele redimensionou as ideias, revolucionou parâmetros e era um ser perfeito, dotado de conceitos que até hoje lutamos para entender. Jesus era ecológico e politicamente correto, dono de leveza no olhar e postura elegante, coisas que buscamos encontrar num homem comum e, sempre que pensamos tê-lo encontrado, o pão é bolorento. Jesus era o tal. Perfeito por dentro e por fora, espírito de escol que demorou milênios reduzindo sua luz até que conseguisse entrar num útero sublime e se tornar o salvador do nosso mundo de trevas.
Jesus é um ser divino que governa nosso planeta e tem uma paciência de Jó. As chances que tivemos em dois mil anos desde a elaboração de sua doutrina foram tantas que perdemos a conta na história. Deveríamos ter prestado mais atenção e guerreado menos; entendido sua palavra e iniciado a nossa civilização com louvores e hoje estaríamos bem melhores na foto.
Mas não. Fizemos tudo do modo mais difícil. Em vez de observarmos suas regras de boa convivência e espalharmos o amor e a fraternidade, acabamos lutando em seu nome, fazendo arruaça pelos quatro cantos do globo. Permitimos que a ignorância tomasse lugar na trajetória desses dois milênios, quando poderíamos ter alçado um posto de alunos melhores. E continuamos com a mesma mesquinharia, aproveitando os avanços tecnológicos para mais tirarmos uns dos outros.
Não é por acaso que vemos o planeta jorrar sangue pelos seus poros. Calamidades pipocam em pontos extremos, como aprendemos com a homeopatia, em que o corpo começa a se livrar das doenças de dentro para fora. Vulcões explodem, tissunamis alvoroçam mares, terremotos derrubam cidades, transtornos climáticos atingem com crueldade populações que viveram tranquilas por centenas de anos. Somos culpados pelos transtornos ? Sim, mas não do modo como encaram os cientistas que beiram a loucura tentando fazer-nos voltar a viver sem os inventos que tornaram nossa vida tão melhor. Somos culpados porque o planeta também é energia, também precisa de revitalização moral para viver bem, pois somos células de um corpo bem maior, assim como a Terra é uma célula do Universo.
Jesus deve estar com as mãos no queixo, imaginando quando é que sairemos desta encrenca em que nos metemos. Enquanto tamborila os dedos, observando o planeta azul sob seu governo paciente e injetando ânimo ao convocar espíritos de bem a fim de nos empurrar para um futuro melhor e almejado, espera que entendamos o seu recado, dado há tempo tempo.
Brilham seus olhos com as luzinhas e bolas que seus irmãos animam em pendurar nas árvores para festejar seu nascimento na Terra. Acompanha a tarefa árdua do Papai Noel em sua fábrica de presentes no Polo Norte e assiste o mundo cristão se esfolar em compras e dizeres de boa aventurança para o próximo. Jesus é paciente com seus filhos e admira seus esforços , pelo menos nesta época. “Povinho difícil “, deve pensar, suspirando.
E suspiramos nós, esfolados pela inigualável candura que nos atinge no mês especial que é dezembro. Parecemos autômatos, atropelando os dias curtos e quase imperceptíveis. Só nos damos conta de que as festas acabaram e que tudo correu bem, quando acordamos no meio de janeiro. Mais uma chance nos foi dada, pensamos então. Mais um tempo para repensarmos nossas agruras, nossos desvarios. Mais uma chance para revertermos a pobreza moral e física que nos cerca e tentarmos mudar o mundo para melhor.
Este Dezembro não está sendo diferente. Difícil crer que alguém não tenha em mente alguma lista secreta com projetos para a nova vida que espera ter daqui pra frente.
E Jesus espera. Como bom filho que é do Ser Supremo, também espera de seus irmãos que subamos um degrau a mais na escalada íngreme da evolução.
Ainda bem que Ele espera...