O mundo está em pânico.
As redes que sustentaram o mundo que conhecemos nestes últimos trinta anos estão se rompendo. Os laços que contiveram diferenças se afrouxaram e, agora, a cada instante, vemos surgir uma nova crise. É natural que assim seja, já que tudo no Universo é redondo, gira, é cíclico e se move como nas marés. A cada período onde haja necessidade de transformação, a maré chega, sacode, destrói e obriga a reconstrução para uma outra etapa de experiências. Foi assim e sempre será. Em períodos repetidos da história da nossa evolução, o ciclo se iniciou e se completou, alçou um novo degrau e reiniciou o ciclo, e assim por diante. As pessoas mais velhas estão carecas de conhecer este poder de dissolução de valores de um tempo e o engate na aventura para novas realizações. Parece indiscutível que saiamos dos escombros para ressurgir das cinzas. Não é provável que o mundo acabe e nem que permaneçamos na ignorância. Não é sadio que fiquemos inertes diante da histeria coletiva e que as coisas não se ajeitem. Sempre as coisas se ajeitam e continuamos a viver. O mundo, mesmo em pânico, não acaba assim. Nem no limiar do Apocalipse.
O Brasil enfrenta o fechamento de mais um ciclo. Nesta fase de crise política, econômica e social, nada impede que seja da alçada do povo o alerta de que os meios através dos quais se pratica a democracia devam ser revistos e reciclados. Nada mais concreto do que a imposição popular por correções no modelo que governa a vila, a cidade, o estado, o país. Nada mais convicto do que a exigência de posturas menos aristocráticas dos postulantes ao cargo público - aristocracia, ademais, inexistente e com raízes insanas no pretérito imperfeito das cabeças com coroa imaginária. Um candidato deve passar a ter consciência do grande trabalho que terá, se eleito. E "consciência " é um processo que vai começar, bem devagar, a partir dos desdobramentos da Operação Lava-jato e outras que, com certeza, virão.
Nossos homens das altas cortes, no geral, estão sozinhos. Há um cheiro de derrocada no ar, cheiro de naftalina, arruda, galinha preta. Virar o mundo da aristocracia de cabeça para baixo sempre foi dever do povo, desde que o mundo é mundo. Só que, atualmente, ninguém precisa enforcar ninguém. Basta que comecem a sentir que a prisão foi feita para receber malfeitores de toda espécie e classe.
Não é possível imaginar, porém, que as mudanças ocorrerão com rapidez. Todo engate para uma nova engrenagem tem que ser preciso pois, na falta de precisão e bom senso, não haverá movimento.
Todo e qualquer recurso do país deve ser usado para o benefício da população e para situá-lo perante outras nações. Fazer troça com o dinheiro alheio é antigo, rompe a moralidade, promove a ruína do Estado, da Justiça, diminui a crença nas leis.
Entretanto, o meu país não é o único a ter problemas, já que aquela historinha do ciclo está mexendo com o mundo todo. Ignorar os apelos dos cidadãos é uma prática usual entre governantes, que demoram a acolher o grito das massas. Sempre digo que o mundo inteiro já vivenciou os modelos de governo conhecidos. Os grandes mestres, que usaram a literatura para expôr suas idéias, ressuscitaram Sócrates, Platão, inventaram países fictícios para viverem A Utopia ( Tomás Morus ) e Nova Atlântida ( Francis Bacon ), tudo para recriar um mundo novo para uma Europa ansiosa por novidades políticas e sociais. Com a genialidade aflorada e dispostos, combinaram as grandes idéias com os descobrimentos além-mar e contribuíram no período do Renascimento.
Destas obras, saíram os primeiros textos socialistas, que culminaram com Karl Marx e Engels no final do século XIX.
O acolhimento pela humanidade dos vários modelos descritos e sonhados por estes pensadores e, mais além, pela democracia dos gregos, lá longe, é a raiz do problema que ainda hoje aflige e descontenta. O descontentamento não chega a partir da escolha do tipo de governo, mas do modo como o homem que chega ao poder dispõe as instituições e açambarca as leis, ajuizando-as de acordo com a sua própria espécie e crença, usufruindo do tesouro que é da população. Em qualquer situação, o mal é sempre o homem revestido do poder, galgando postos e deliberando em nome de poucos o que deveria ser de uso exclusivo dos reais provedores dos recursos do país.
Tanto faz, enfim, que seja democracia, socialismo, neoliberalismo, monarquia, comunismo, parlamentarismo, cristianismo, islamismo e todos os "ismos" . Conquanto que haja honestidade de propósito em todos os setores e os iniciados no ramo passarem a recusar o dinheiro que não lhe pertence por direito, tudo bem. A vida segue.