No começo, a gente vê luzes brancas e azuis dançando uma espécie de valsa sem ritmo, comunicando os dedos das mãos com os dedos dos pés por um túnel de pedras, longo e sem equilíbrio.
No meio, a gente desce as escadas e se depara com um esqueleto pendurado no teto, livre e bamboleante, cheio de sorrisos mórbidos de dentes arreganhados – uma sinfonia de beijos ósseos e articulados.
No fim, a gente mede a circunferência da cabeça e pesa o pensamento, que explode em acordes escandalosos, fazendo chegar ao coração toda a enigmática censura das ideias.
Tenho uma ideia louca.
Luzes brancas e azuis. Uma valsa tênue.
Uma valsa com um esqueleto sorridente e tênue, num túnel ósseo e sem equilíbrio.
Cabe algo mais. Uma ideia extravagante. Uma ideia onde todas as outras se encaixem e transformem pedaços em todo. Cabe dizer palavras soltas, todas elas tão soltas quanto pássaros, livres como águias em seu ninho nas alturas, aladas como as pétalas mais puras, que se desprendem e voam a menor brisa.
Amor. Sonho. Vida. Céu. Mar. Montanha. Vida. Sonho. Amor.
E então seria uma festa, uma sinfonia de beijos dançando uma valsa articulada e longa, num túnel de luzes brancas e azuis, cheio de sorrisos pendurados no teto, fazendo chegar ao coração toda a enigmática leveza da comunicação dos seus dedos com os meus.
escrito em julho de 1986.