Existem muitos urubus na avenida Paulista. Não me perguntem, pois não sei porquê.
Assim me disseram e passei a acreditar quando Helena, uma moça muito bonita, reforçou as peripécias de um urubu que a vigia quando toma sol na piscina da cobertura do seu prédio. Ela conta que o urubu, assim que a vê se aprontando para se esticar na toalha, se posta no ponto mais alto e a fica observando, com uma postura que Helena chama de "grotesca, uma ave preta e enorme, parecendo uma pessoa com a mão na cintura". E fica lá, o tempo todo, admirando, de olho nos movimentos, talvez imaginando que " aquela ali vai apodrecer logo logo".
Há outros medos envolvendo urubus. Em outro prédio, na mesma região, os urubus apavoram quando se batem nas janelas e miram dentro das salas, com olhares entendidos de curiosidade.
Nesta toada, me envolvo com as descrições feitas e me arrepio. Em todas elas, urubu tem tino de gente. Coloca a mão na cintura, coça os olhos com as pontas das asas, olha com olhares inteligentes e se esmeram na pontaria dos pousos. Acredito piamente nos relatos uma vez que, em coisas da natureza, tudo é possível.
Esta mesma Helena, criativa, andou pesquisando os tamanhos de pingüins e, afora aqueles graciosos e pequenos que andam balançando, existem os de um metro e meio, quase do tamanho de gente, " meu Deus, imagine dez deles aqui nesta sala". Não. Não imagino. Criatividade tem limite e imaginar dez pingüins fora do Polo Sul e perambulando pela minha sala seria uma desfaçatez. Mas Helena pensa nisto e se arrepia toda, voltando a contar o quanto a amedronta o urubu que a paquera do alto de seu posto.