Conclusões meteóricas a respeito do lar:
a) a família representa uma parte constante na minha vida;
b) os pais são de um valor calculável, quando penso no inestimável crédito e no baixo débito inexistente na relação;
c) tios, tias, primos e primas são como estradas, com seus morros, retas, curvas, desvios e sinais de advertência.
Faço parte da segunda etapa de nascimento, quando meus primos já eram adolescentes e cresci meio solitária, entre palavrões e olhos azuis, cabelos castanhos e loiros, olhos verdes e castanhos muitos, reunião de família aos domingos e com a timidez própria dos filhos únicos.
Começo a perceber que , durante algum tempo, vivi absorta em um mundo diferente, longe da realidade, suspensa em outra galáxia , observando estrelas e querendo ser astronauta desde os primórdios de 1969 quando, pela primeira vez e em primeira mão, meu pai me chamou para ver os homens flutuando nas crateras da Lua.
Acho que apodreci no meio das bonecas. Amaluquei diante dos livros de Monteiro Lobato, virei fã incondicional da Emília; suspirei assistindo James Dean, sonhei com a capa voadora e a máscara do Nacional Kid, fantasiei com os desenhos animados e tentei, por alguns dias, vender gibis já lidos na porta da minha casa. Em vão. Nunca consegui vender nada e não consigo até hoje.
Astronauta. E a família - mais tarde cheia de crianças da nova safra, volitando a minha volta como poeira - falando absurdamente alto e fazendo contestações, agitando festas de aniversário, receitas de tricô e crochê, fazia a vida ser fácil e leve, sempre com muita risada e animação.
O amor perdido. E a morte de parentes que, hoje, rimos ao lembrar das brincadeiras de um tempo. E o medo do amanhã, vovó Negra com quase noventa anos, a festa de arromba para comemorar o quase centenário. O apego tranquilo, que se fez com o passar dos anos e com a convivência diária.
O mundo dá voltas infindáveis e a família é este processo contínuo de crescimento e envolvimento, que me faz ter uma grande margem de confiança e força para encarar o desafio do relacionamento com outras pessoas.
Sorria, família!
Se antes eu suspirava por James Dean nas suas loucuras de rebelde sem causa, hoje suspiro por você, doce sustentáculo que chega, um dia, e sempre fica.
Julho /1983