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SINAIS
SINAIS

 

 

Deve existir um jeito de fazer a vida mais fácil.

Nos últimos dias, coletei alguns olhares fugidios e frases de certo desapontamento.

Imaginei que dias de aborrecimento só eu os tinha...

Na maioria das vezes, as frases diziam sobre o pouco tempo, a pressa, a falta de sossego, a falta de tempo, tempo, tempo.

Não é preciso ter lido “Admirável Mundo Novo” para entender que estamos vivendo o que, na ficção, Aldous Huxley escreveu. Na aventura incrível que desbota as certezas da vida dentro de um mundo direcionado e sem intenção pessoal, o autor profetiza uma época como a nossa.

Nosso mundo teve uma transformação enorme nos últimos trinta anos. Antes, tínhamos que esperar. Hoje, se não temos agora, sentimo-nos incapazes. Antes, o tempo das respostas variava conforme o lugar. Hoje, basta um “enter”. Antes, precisávamos nos encontrar para combinar um encontro. Hoje, combinamos encontros com quem nem conhecemos.

Embora os encontros aconteçam, não têm exatamente o mesmo sabor. A sensação da espera, do momento apropriado, do respeito aos horários, não existe. Afinal, email não tem hora para passar. Tem hora para ser lido. Mas, se não for lido no tempo de quem o passou, não tem hora, nem dia, nem lugar, nem respeito.

O celular deixou de ser um instrumento de utilidade para ser um incômodo. Não existe silêncio. Não se vê pessoas andando nas ruas e observando a rua. Ouve-se gente falando, falando, falando, sem parar. No trabalho, dentro de casa, em qualquer lugar.

Para pedirmos uma informação, temos de esperar até que a pessoa desligue o telefone.

Para iniciarmos uma conversinha à toa, pedimos licença.

Na ficção de Huxley, o mundo imaginado tinha seus cidadãos dopados e calmos, reféns do domínio escravizante que pregava um mundo perfeito. Nem me lembro direito os sucessos e insucessos da história inteira – li há muito tempo. Mas ficou registrado o efeito que uma vida direcionada e sem questionamento pode ter.

Sabemos de crianças assassinas. Lemos sobre atentados terroristas. Convivemos com a falta de ética. Absorvemos a cultura da droga. Conhecemos o pacto entre opressores e oprimidos. Lidamos com a pressa e a imperfeição. Aprendemos e sofremos com a indelicadeza que persiste.

Somos admiráveis neste contexto.

O mundo novo requer um questionamento e há que se crer na disposição de que ainda dispomos de mudar algo. Não haverá um jeito mais fácil de levar a vida? Sem pressão, sem falsas impressões, sem tédio tendo tudo? Somos entendiados e cansados promovendo o conforto ; somos descrentes e, para não o sermos, certificamo-nos de que cremos. Precisamos sempre, a todo momento, provar que podemos, que aceitamos, que reverenciamos, que não dependemos. Melhor seria não ter que provar nada, nada mendigar, nada nos afetar.

Talvez assim, os olhares fugidios e preocupados e as falas suspirosas deixassem de nutrir nosso semblante. Talvez assim nossas preces subissem para a nuvem certa. Talvez, sem o imediatismo dos meios de comunicação - que utilizamos para facilitar a vida –, o sentimento de incapacidade simplismente desaparecesse.

Talvez estejamos negligenciando os sinais de fumaça.