As imagens são doces e, de volta dos mortos, lembranças voltam e aquecem.
Muitas delas vivem num canto qualquer, empoeiradas e envoltas em nuvens de esquecimento. Guardam detalhes e, de tão bem guardados, esquecidos.
Muitas lembranças ficam como mortas, enjeitadas pelo tempo que as aquietou. Empoeiradas, embaçam as vozes, apagam as palavras, nublam as fisionomias.
Da lembrança fica a aura, a sensação da doçura, o aquecimento do coração que bombeia o sangue novo para as células quase mortas - pois sem lembrança. Com ela de volta da cápsula do tempo, o enigma do tempo perdido se esvai e devolve a cor dos dias, os dourados do já vivido. Os males que os dias trazem e que - dizem - nos fortalece, são açambarcados pelas doces lembranças do que passou pois, o que é passado, é transmudado na tela transitória da mente.
As imagens tornam-se doces, repletas de alívio, sôfregas expectativas de que retornem como se fossem reais. Mas são, na realidade, apenas sensações aquietadas na alma empoeirada, são como nuvens que se vão ao menor sopro do vento macio. E voltam e se vão, novamente, sempre embaçadas; estas lembranças que causam calafrio, desmaiam e mentem para outras lembranças ainda guardadas, enclausuradas no recanto das almas sedentas do retorno dos tempos e das imagens vivas, aquecem os nossos olhos, preenchem o vazio que nem se sabe de onde vem.
Nos castelos onde são guardadas as lembranças da vida, as imagens são freqüentemente projetadas em suas paredes , em cada uma delas, com riqueza de detalhes ou não, e engrandecem, encorajam, iluminam.
A aura de doçura nas lembranças faz a felicidade.
Momentos felizes transformam a alma e, como nuvens, passeiam pela nossa vida, indo e vindo, mesmo que empoeirados e embaçados, mas sempre acalentando os nossos dias.
23/12/2014