Era hora de ir embora. Com 25 centavos de dólar impressos num vale, ainda pensou que podia reverter o jogo. Perdera 300 dólares do saldo de ganhos dos dias anteriores. Nada mais havia de ser feito naquela noite.
O cassino fervilhava de jogadores nas mais variadas sintonias. Ele, por si só, e fervilhando em seu coração, não arriscaria mais. Perder causava um suor frio e, ao mesmo tempo, um calor estranho invadia seu corpo pedindo para voltar na roleta.
Rodeou várias delas, todas cheias de jogadores atentos e olhares vidrados, esperando a sintonia entre o risco e o resultado do giro do número da sorte.
Ele teve um segundo de loucura. Escolheu dentre tantas a roleta que mais lhe apeteceu. Jogou 100 dólares, espalhando as fichas em vários números. Sobraram-lhe cinco fichas na mão. A roleta girou. Foram-se todas as apontadas na mesa. Em suas mãos, as cinco fichas rolavam nervosamente. Era hora de ir embora. Perder mais? Não era hora ainda. Cinco fichas.
Ele pensou nas possibilidades e apostou o que lhe restava. Número 35. Cercou-o de todas as formas possíveis, pois era nele que se centrava. Fechou os olhos por alguns instantes, enquanto outros terminavam suas apostas e a bolinha girava na roleta. Até que a croupier gritasse "no más", a aposta estava valendo. E valendo estava o seu pequeno tesouro, resumido ali na mesa a míseras cinco fichas. Naqueles segundos, muitas coisas passaram pela sua cabeça.
"No más", gritou a croupier. O jogo estava valendo. Sua inquietação era tão grande que a moça percebeu sua angústia. A bolinha parou. Seu olhar procurou o número vencedor. A croupier gritou "35" !
Moral da história: ele voltou para o hotel com 600 dólares e a maior das alegrias. Suor nas mãos? Coisa de jogador, de quem gosta de sentir o prazer da ficha sendo contada, do dinheiro sendo trocado, dos números e da sorte rolando. Ele está feliz, esquecido da zica de ter perdido dois dias atrás.