O MONSTRO
O MONSTRO

 

 

 

 

Novembro vai terminando e o mundo também. Fim de ano é sempre assim. Crescem vários personagens que, na imaginação, tornam-se gigantes ameaçadores: o Papai Noel vira monstro, o carrinho do supermercado ataca, a lista de presentes parece papel higiênico. As árvores de Natal criam vida e abrem um sorriso irônico, como se dissessem: "corre, nega, que tá chegando o dia do juízo final ". Tudo tem que estar expressamente pronto para o dia 24. Depois, "corre, nega, que o último dia vem aí ". Dá-lhe tarja preta. Ainda criam um programa de retrospectiva do mundo todo fodido, que é pra atazanar a mente colecionadora de fatos desagradáveis, que podiam ser esquecidos e guardados para depois de 15 de janeiro.
Minha meta é chegar no dia 31 de dezembro com o meu saldo de tranqueiras realizáveis quitado. Muitas aventuras fazem parte da minha própria retrospectiva sobre um ano que teve arranjos e desarranjos; de um ano em que a soma dos acontecimentos foi uma tarefa incrível para equilibrar o sentido da vida.
Na verdade, foi um ano em que me senti no período cretáceo, vagando entre dinossauros carnívoros e, ao mesmo tempo, sabendo que era certo chegar a era do gelo e, com ela, uma calmaria ilusória de horizontes brancos.
Na iminência de montar minha árvore sorridente, vou criando dias mais longos, esticando novembro e espaçando dezembro num elástico invisível.
Os papais-noéis gigantes e flutuantes caminharão comigo, eu sei disso, e, junto deles, os carrinhos de compras e a lista de presentes desfilarão numa passarela organizada pelos infinitos papeizinhos dos quais me socorro para que nada seja esquecido nos dias "D". E aí, a partir de 3 de janeiro, a retrospectiva do ano já terá sido esquecida. Ou não.
 

 

 

 

Novembro/2017