As doses de euforia vistas nos últimos tempos diminuíram. Foram uma espécie de neblina que toldaram a capacidade de discernimento de uma parte significativa de pessoas. Esqueceram que um fim exige um recomeço, uma nova ordem a atravancar os processos para o rearranjo do país. Desmantelar um governo foi até fácil, para o que chamamos de plutocracia, a dita chama dos poderes pelo dinheiro e não pelo povo; pelo patrocínio dado pelos poderosos a fim de exercerem o comando da nação.
Adivinho que objetivará um governo pífio, recheado de investigações e permeado por julgamentos de toda ordem. Nossa ordem, a ordem judicial e a ordem das coisas. Se fizeram o que fizeram com o governo estabelecido pelo voto de milhões de brasileiros, imagino o que farão com um interino regado à falsas pretensões e decrépitos sanguessugas. Admito que pode haver deputados que continuarão a alicerçar as bases do governo, mas me consolo com a legitimidade que poderão calcar, caso se coloquem na oposição.
Nas várias vezes em que me dispus a falar sobre ser contra a corrupção em qualquer nível, sempre me pautei com isenção, querendo que todos os corruptos fossem investigados e corrigidos na forma da lei. Com um Judiciário isento, claro. Não um Judiciário que sobrecarregue em dosimetrias ou que navegue sobre falsos ditames partidários, escolhendo a dedo a quem culpar pelo naufrágio das coisas públicas.
Neste momento de crise institucional, apelo para o bom senso e mais nada. Nada mais a querer, depois da ilusão de que o processo de impeachment sairia incólume. Nada mais a resgatar, depois de ver a velha e boa oligarquia assumindo as beiradas do poder, como se pôde ver quando um PMDB desgastado e torpe subiu nos pódios do Palácio. Mas a intolerância não pode subsistir às melhorias de que o país precisa. Não o quero afundado em águas turbulentas.
Acontece que as autoridades e os contrários que estão se esbaldando com a queda do PT hoje se encontram num beco sem saída. A massa falida de mentes que subverteram a democracia - vista pela escolha de um representante pelo cidadão - subtraiu o esforço com que chegamos à ela. Cabe, portanto, às mesmas mentes acirrar o confronto com a ininterrupção das investigações dos ditos poderosos que açambarcaram o poder. São muitos. São os descolados precursores dos malfeitos que sobreviveram a gerações de torpezas no âmbito da política nacional. São os que surrupiaram toda a autonomia de partidos que queriam mudança. São os que domesticaram a massa eleitora para justificarem seus arranjos.
Na falta de sorte monumental em que nos encontramos atualmente, haverá algum caminho a ser percorrido sem os desvarios da liderança oligárquica e danosa para a nossa democracia?
As doses cavalares de indução com que as mentes foram bombardeadas durante um bom tempo estão mais brandas. Mas em que sentido? Em que direção? Estamos, como país, deixando que nos conduzam no rumo certo? Ou as mentes temerosas de um PT se aquietaram a tal ponto que acham que chegamos a bom termo com a troca?
20/05/2016