Se a humanidade é culpada pelo calor excessivo ou pelas tempestades de neve, não sei.
Olhando os mapas e definindo certas prioridades, não posso deixar de admirar os avanços que nos fizeram chegar aos 7 bilhões de moradores neste planeta azul.
Se tivemos de cortar árvores no decorrer do tempo, o benefício foi grande. Em cada época e para determinadas finalidades, usamos troncos e folhas e frutos e nos fortificamos e aquecemos e aprimoramos nossa leitura e escrita através do útil vegetal. Antes, escrevíamos em peles de animais – grande avanço poder desfrutar de papel. Hoje, não queremos mais usar papéis, mas precisamos da eletricidade para nos manter ativos e vivos. Queremos guardar tudo no computador mas, para isso, há que existir uma hidrelétrica ou termelétrica ou um catavento girando lá fora. Todos admitimos que hidrelétrica arrasa com a biodiversidade, que a termelétrica arrasa a atmosfera e que a energia eólica é cara e precisa de vento constante.
Não gostamos de agredir a natureza, mas lidar com ela é uma briga antiga. Gostamos da neve, mas queremos olhá-la através da janela ou encapuzados. Gostamos do verão, mas gostamos mais quando há uma praia ou piscina por perto; quando o ar-condicionado funciona e os refrescos e sorvetes nos esperam na geladeira. Ar-condicionado + geladeira = eletricidade.
Nos anos 90, quando toda esta loucura em torno do aquecimento global começou, quase perdemos a cabeça e deixamos de usar desodorante. As geladeiras causaram o rombo na camada de ozônio e as empresas que as produziam foram perseguidas. Salvar baleias causou um transtorno na comida milenar japonesa e seus pescadores viraram bandidos do mar. Mas as baleias acabarão, um dia, como acabaram os dinossauros, e não se tem notícia de que comemos todos eles.
Acredito que seja uma aberração transformar estes conflitos ecológicos num carma da humanidade. A Terra esteve em transformação constante e só absorvemos isso com estudos geológicos e muita imaginação, o que nos dá uma vaga idéia de que ela permanece mudando e girando e, como giramos em volta do sol e somos parte de um todo vivo e vibrante, é claro como a sua luz que haverá mudanças. Talvez seja parte dos planos do Universo que a Terra gire um pouquinho diferente do seu eixo e não tenhamos mais as calotas polares. Talvez – e por isso mesmo – ganhemos novas florestas e tipos diversos de plantas, animais adaptados e uma seleção natural que nos beneficie. Nada muito cármico. Apenas uma mudança onde prevaleçam o bom senso estético e amoroso do nosso planeta.
O calor e frio excessivos que estamos vivendo nos dois hemisférios são uma prova irrefutável de que nossos conceitos precisam ser revistos e amenizados.
A natureza se adapta com tanta facilidade que muitas vezes nos deparamos com animais selvagens vivendo como vizinhos cordiais, pássaros moradores de florestas dividindo aperitivos com pombas nas cidades. Nossa habilidade também se expande e não admitimos mais muitos dos feitos comuns comungados por nossos parentes séculos atrás.
As transformações são frágeis, mas certeiras. Uma ilhazinha que o mar engoliu aqui, outra que apareceu acolá... Morros que sumiram para dar lugar a construções, aterros e lagoas que mudaram o cenário de vários lugarejos deste mundo. Defender a natureza e criar leis que a resguardem de depredações e maiores provações é um ato de respeito por nós mesmos, mas admitamos que, sem os espaços que dela desfrutamos e sem as oportunidades que ela nos traz, nada faríamos.
Eu acredito na teoria da conspiração.
Quando há terreno fértil para a propagação de idéias que a maioria das pessoas acorda para acreditar, um assunto pequeno toma proporção de gigante. E, de passo em passo, contamina as mentes e cria o espetáculo da acusação. Muito certo que, neste último período de seca colossal e calor idem, fizéssemos a nossa parcela de racionamento no gasto da água. Mas não precisava que uma repórter achincalhasse uma senhorinha de muitos anos enquanto esta usava um esguicho para lavar o quintal. Questiono o respeito que a repórter não teve para com a senhorinha, muito mais que o gasto daquela mangueirinha. Em nenhum momento ela pensou que aquela cena não estava de acordo; que talvez aquela senhora ainda não tivesse tido o tempo hábil para assimilar o pânico que se espalhou da noite para o dia... Questiono o vale-tudo, a nova forma de acusar os erros, sem medir os próprios ou até para livrar-se deles.
A propagação do pânico é, atualmente, muito maior. Redes sociais fazem o papel de megafone. Notícias correm antes que sejam confirmadas, criando especulação de todo gênero, criando um estresse que violenta nossa percepção.
Cada fervor de uma ONG, quando envolve a humanidade como um todo na culpa adâmica de destruir a Terra, portanto, não me atinge. Fico assistindo de camarote, olhando o planeta de longe, envolta pelo espaço solitário e colocando pinos coloridos, como naquele jogo antigo.
O Universo conspira para a transformação, sempre.
Fevereiro 2014