Foi a curiosidade o que deu ao homem o que ele tem hoje.
Seres inertes foram passados para trás no lento processo evolutivo da Terra.
O espírito inquieto fuça, revira e aprende um pouco de tudo. O que foi uma escalada sem créditos, no passado, é parâmetro para os cientistas de hoje, que se debruçam sobre as práticas anotadas pelos seus antecessores e impõem a sua inquietude na busca de grandes descobertas. E sempre foi assim.
Galeno dissecou animais e listou órgãos lá pelo ano 120 d.c. e deu crias à inteligência máxima de Avicena, na Pérsia, quase mil anos depois. Avicena debruçou-se na filosofia de Aristóteles, Sócrates e Platão e resumiu tudo em tratados que iniciaram a história escrita da Medicina. Dissecou animais porque a religião islâmica e os preceitos mundanos da época não permitiam o conhecimento do corpo humano, embora soubesse que o interior dos animais não condizia com a anatomia do homem. Mais à frente, no Renascimento, vários curiosos começaram a mudar o conceito e, com coragem e persistência, disseminaram o conhecimento, dissecando cadáveres. Assim fez Leonardo da Vinci, com a sua curiosidade fogosa, que revirou talvez mais do que cinco deles e conseguiu reverter o que parecia pecaminoso em base para a evolução do estudo das doenças e suas curas no ambiente em que viveu.
Toda arte converge para todas as artes. Os estudos nunca devem ser limitados na sua área, pois a união de todas as descobertas refletem no que conhecemos como avanço da tecnologia. Avanço da técnica. Do estudo da técnica.
A obtenção destes valores fez do homem, do final do século 19 em diante, um descobridor cada vez mais imediato das ciências que empurraram para a frente as grandes obras das quais nos servimos atualmente. Desde o fogo, descoberto pelos nossos ancestrais cabeludos, passando pelos nossos heróis de cartola da Revolução Industrial – inventores da eletricidade, da máquina a vapor, do tear - , até chegar a um Steve Jobs – cabeludo, também, e de chinelos - , formamos um encadeamento de circunstâncias e aproveitamento da matéria em si e da massa inteligente que perfaz o cenário que projetamos para o futuro. Muito há que se aprender e transformar em sinônimo de qualidade de vida.
Precisamos destas pessoas que se entregam a projetos que nos aliviam das cargas mórbidas.
Para que tenhamos as facilidades, é preciso pesquisa, estudo, dados, bons propósitos.
Para que tenhamos as facilidades, é preciso um laboratório e animais que testem antes de nós o projeto quase pronto para, então, o teste ser feito em seres humanos.
A questão, que colocou em pauta a invasão de um laboratório de pesquisas por um grupo de ativistas em favor dos animais, deve ser discutida com o critério que merece.
Sabemos que algumas técnicas já foram desenvolvidas para a não utilização de animais em alguns testes farmacêuticos e de cosméticos e deve existir mais, que desconheço. Muitas novidades na ciência foram criadas em função do discernimento evolutivo das populações. Quanto mais se sabe, mais se exige e, consequentemente, cria-se. Os resquícios de uma humanidade cruel que, mesmo sem necessidade, veste peles de animais, vai se acabando com a mudança de conceitos jurássicos. Logo, não queremos que bichinhos fofos sejam cobaias.
Na verdade, como de antemão imaginamos que esta forma de obter resultados tem prazo curto, pela constatação lógica de que há de se inventar um novo modo de testar remédios e etcs; talvez, ativistas ou não, queiramos, sim, saber como são tratados estes bichinhos dentro dos laboratórios onde moram. Se moram, cachorros não são pássaros – portanto, não podem viver dia e noite em gaiolas. Se moram, coelhos também não têm penas portanto, também não podem viver dia e noite em gaiolas. Precisam da luz do sol, da terra, da grama, da convivência fraterna e de banhos periódicos, até para serem boas cobaias. Sem saúde, acredito, nenhum cientista poderá identificar, no animalzinho, a validade da droga.
Todas as formas de repúdio à má gestão é benvinda, mas não há que se inverter os valores e sair depredando e validando invasões. A violência resume os atos positivos em desconfiança da real intenção dos protestos. Mesmo que lenta, nossa Justiça existe para ajudar os cidadãos a perseguirem seus direitos individuais e coletivos. Em suma, os ativistas não tinham o direito de entrar no laboratório de São Roque.
Nosso país é feito de gente mansa, avessa à violência. Constata-se isso pela rejeição das gentes aos encapuzados sem rumo, que só ajudaram a desviar o olhar político das manifestações de junho e desmancharam o laço de fortaleza que crianças, idosos e todo tipo de ideologia conseguiram unir nas ruas. A violência dos Black Blocs intensificaram as ladainhas dos políticos em torno de uma segurança falha. Infelizmente.
Em se tratando de evolução, portanto, se pensarmos em humanidade e no quanto conseguimos até hoje, levando em conta o que sabemos da nossa pré-história, vamos indo bem. O avanço conquistado rapidamente nos últimos dois séculos são uma prova de que há esperança. Estamos tentando e conseguindo transgredir normas estabelecidas. Abrimos espaço para o entendimento de conceitos que jaziam arraigados por gerações. Criamos conflitos e sabemos como resolvê-los, na grande maioria das nações, pelo menos, sem guerra.
Como lá atrás na História, quando o conhecimento foi sendo trazido aos nossos dias e as novas ideias renovaram as mentes, assim deve pensar o homem de hoje no que o avilta : saber que as transformações acontecem para o melhor.
Como lá atrás na História, o homem deve persistir sempre na busca de definições para a indagação do desconhecido. Mas há que ser uma busca incessante e legítima, que permaneça e se desdobre em camadas, como sustentáculo para o futuro.