Questão 1: “salário integral diretamente aos médicos cubanos ”.
Os contratos não foram feitos assim. Cada país com a sua legislação e seus moldes. O novo governo eleito se fixa nos padrões americanos de leitura ideológica e os EUA não respeitam o país que é diferente. Espero que não cometamos o mesmo erro.
Questão 2: “8.000 vagas abertas para médicos brasileiros, enfim!”.
Já existiram mais vagas pelos rincões deste Brasil afora e não foram preenchidas, pois quaisquer profissionais no Brasil se acham super elite e não se dignam a se estabelecerem no interior. Neste item, não falo mal só de médicos, pois tenho de todas as profissões na família e todos se fixaram em cidades grandes. Status. A ideia elitista de estudo no Brasil vem de longe. Por isso, a atitude do governo Lula em “desmontar” essa divisão e abrir espaço nas universidades para os mais pobres nunca foi bem aceita pelos que se consideram elite.
Questão 3: “escravidão dos médicos cubanos”.
Quem sou eu, né, brasileira e sabedora do trabalho escravo infantil e dos que não conseguem NUNCA pagar sua DÍVIDA com o patrão, no MEU país, para discutir sobre trabalho escravo de outro país!!!! Até há bem pouco tempo, empregadas domésticas não tinham seus direitos formalizados e eram obrigadas a entrar na justiça contra seus patrões, que nunca gostaram de pagar os benefícios corretamente. Por que? Ora...e aquela pontinha restante do vínculo escravocrata, aquela frase pronta e repetida por gerações: “pra quê direitos, se tem cama e comida? Devia agradecer por trabalhar nesta casa...”
Permitam-me dizer que a maior desgraça acontece quando as pessoas que vivem no seu país não o enxergam apropriadamente. Nem somos o pior país do mundo, nem o melhor e mais belo. O planeta Terra é bonito por natureza e tem nele morando pessoas de raças, credos e ideologias diversos.
O poderio americano deve ser manejado com parcimônia: “eles lá e nóis cá”. Afinal, o imperialismo atrapalha os neurônios dos cidadãos e espelha uma falsa realidade. Quem somos nós para indicarmos a melhor realidade para outros povos?
A dependência que temos de médicos está acima da perseguição ideológica. Ou seremos então doutrinados pela direita e guardaremos tudo num armário, como acontece quando sabidamente militares estão no poder e há uma espécie de evaporação dos problemas?
A discussão, na verdade, nunca foi sobre a necessidade brasileira de médicos que atuem nos recantos deste país enorme. A discussão até agora tem sido sobre como inventar uma ideia de foder com Cuba, soando para todos os crentes que estamos querendo fazer um bem aos médicos cubanos. A ideia é essa e pegou. Infelizmente.
E quem perde, mais uma vez, não sou eu.
Mas, meu umbigo não é o meu mundo: quem perde são pessoas que nem conheço, que nunca viram um médico na vida e que comem num ano o que como em quinze dias.
Acordemos para uma doutrinação que não vem dos livros e de ideias postas sobre a mesa, mas de palavras torcidas e realidades distorcidas.
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novembro/2018