UM DÉBITO PARA COM A SOCIEDADE
UM DÉBITO PARA COM A SOCIEDADE

 

Não sou afeita a intolerâncias.

De todas as loucuras que o ser humano é capaz de aceitar, a pior delas se manifesta quando as ideias são trocadas. Montar uma praça de guerra e atacar professores é, no mínimo, lutar contra um patrimônio que instituiu o que somos hoje e confiamos que nos represente no futuro de nossos filhos e netos.

Será que a alma trepida quando vemos um corredor polonês montado para intimidar educadores ? Ou só trepida quando nosso mercado está abalado e estamos sendo difamados por países que não têm tantas chances quanto nós temos, como um país crescente que somos?

Será que é mais interessante e dolorido assistirmos o sofrimento alheio e lutarmos pelo racismo nos Estados Unidos ? Será que o sofrimento que desmerece professores é menos digno ?

Alunos estão sem aulas e a culpa é de quem? Deveríamos supor que os pais estão despreocupados e se lixando pelo que os filhos estão perdendo de tempo e aprendizado nesta arruaça de malfeitos ?

Afora a roubalheira frenética, o Estado tem dinheiro para reestruturar o ensino. O que não é lógico é supor que vivemos no mundo da fantasia nos Estados supostamente mais ricos do país. Vivemos uma farra política, em que desmandos são criados a partir do desmando já investigado. Qual a improvisação que falta? Qual a medida possível para que o que é básico não se desestruturasse ainda mais, deixando que o esgoto subisse até atingir a educação de nossas crianças e adolescentes?

Sem educação, tudo cresce. O desvirtuamento, a alucinação, o tráfico de drogas, a corrupção dos menores e das instituições, o caos da sociedade e a imposição do crime.

Quando o que seria mais fácil reconstruir – a educação – está nas mãos e ordens de quem governa, a questão primordial que realmente abala a mídia é a diminuição da idade para fins de pena. Em que momento esta questão seria mais importante do que a revitalização do sistema educacional, base de toda estrutura social? Sendo que já temos a penalização a partir dos 12 anos e as casas que deveriam acolher e nutrir os menores infratores só os transformam em infratores adultos?

Não creio nesta involução de desalojamento do canal democrático que vemos crescer em nosso país ultimamente e que pede um impeachment de uma presidenta nas ruas e se esquece de negociar a real conduta de base de nossos governantes menores, que lidam nos estados e municípios, sem a devida e aguerrida oposição.

Parece fácil descrer de um país que atravessa um período de devassa da Polícia Federal, mas parece difícil entender que o pior não está nos mercados que sobem e descem, e sim nos desvarios dos poderes de baixo, que assolam as populações das cidades menores com desarranjos nas suas autarquias.

As intolerâncias germinam das condutas contrárias, das formas de pensamento incoerentes e da falta do olhar para as miudezas correntes no nosso cotidiano. É o olhar desviado por achar que o viciado em crack nasceu bandido, sem imaginar que se transformou num, pelas circunstâncias e doenças consequentes das ruas pelas quais perambula.

É o olhar disseminado, pelo boca-a-boca, que os sem-teto são bandidos e não famílias que procuram um lar.

Todos brigamos por um sonho. E esta briga pode ser maior ou menor, dependendo do quanto de resistência encontramos pelo caminho.

Se o olhar de tolerância com os desprestigiados – os pequenos -  da sociedade não sobrevir às intolerâncias grandiosas, nada haverá de mudar, nada sobreviverá ao caos.

 

29/04/2015