Nasce no íntimo a suposição de que algo não vai bem. Os dias passam e a prece de agradecimento pelos dias floridos e surpreendentes não parecem se alinhar. Espero pelos dias floridos, mas as noites me atraem mais pela solidão e pelos momentos de paz.
Cresce, no embalo das palavras frequentes e repetitivas, a angústia do não retornar ao normal dos dias. A luz, que antes transbordava, transformou-se num amargo rito de reclamação e tristeza infindável. Não creio mais na normalidade dos dias. As noites me atraem mais, embora tenham se tornado curtas. Os longos dias são repetitivos e as palavras são as mesmas. O que antes transbordava em energia e disposição, hoje não passa de um repertório pobre e sem fim, com imagens criadas por uma imaginação fértil em fantasias. Não há o discernimento entre o real e o imaginário. Não há discernimento entre o que ficou no passado e o que o presente representa. O futuro não mais a Deus pertence, mas a um cálculo infantil de contas supérfluas e sem significado. As palavras se repetem sem o sentido que a luta pelo entendimento determina no cérebro. Elas ecoam como sons sem nexo.
Há uma luta constante para entrar na realidade. Nas mínimas coisas, enternece perceber o esforço para que as lides continuem no formato de sempre. Mas é por muito pouco tempo. Logo o ciclo retorna, tão monótono e intacto, tão sem sequência e no ritmo desfalcado do cérebro desconexo.
Afoga o sentimento de pesar pela falta do que fazer para ajudar neste processo difícil de dissociação.
Nasce um coração duplo, um poder de doação que redobra a força do corpo.
Cresce, nas mínimas coisas, o enternecimento pelo amanhã incerto, pela luz que não chega.
Há uma longa luta e me armo com tacapes e adagas, garruchas e rifles para vencê-la.