Somos todos velhos.
Velhos de alma, de vícios, de enredos mal escritos, de tarefas mal cumpridas.
Somos velhos com atitudes desenfreadas, medos infundados, ladrilhos mal lavados.
Somos velhos cegos que mal andam sem tropeçar no primeiro degrau. Não nos curvamos.
Somos velhos que se engalfinham, matam, discordam, desnorteiam. Nossa alma pede que essa velhice se apague.
Somos velhos porque, destroçados, ainda impomos; porque perdidos, ainda mandamos; porque desnutridos, dispensamos o prato doado. Nossa alma implora que suportemos os percalços da vida e, para suportá-los, que baixemos a guarda, que busquemos a humildade, que choremos um perdão.
Somos velhos porque desistimos da conquista.
Somos velhos porque, no melhor dos dias, choramos o que não está ao alcance de nossas mãos e esquecemos do que está a nossa frente.
Somos velhos envelhecidos na solidão, pois o destino tudo dispõe, mas a alma velha empedernida nada vê, cega que é, obscura como se veste.
Somos todos velhos e velhos seremos, se não trocarmos a velha farda pela alma nova que tudo vê, com asas abertas para o mundo que acolhe.