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MODERNIDADE
MODERNIDADE

 

Martinha nasceu forte, linda e loirinha.

A mãe que a teve tinha já seus quarenta anos e o nome veio da Jovem Guarda.

Martinha não existe, Marta existe. Martinha é o diminutivo de Marta, um nome que existe. Martinha era a cantora da Jovem Guarda que a mãe da Martinha nenê achou por bem homenagear, embora para muitos pareça mais uma homenagem a Martinho, o Lutero.

Pobre Martinha, cuja mãe achava a outra, a cantora, uma graça, que ficou com o nome pitoresco.

A mãe de Martinha tinha os seus muitos méritos – menos o de nomear filhos.

Era uma tia dedicada, amorosa e adorava dançar. Rodopiava nos salões dos grandes bailes dos anos 60 e usou por muitos anos ainda, mesmo com o advento de Audrey Hepburn e seus tubinhos, a saia rodada dos anos de rock and roll. Ela gostava de rodopiar com saia rodada e a moda que se recolhesse a sua insignificância.

Costurava as próprias roupas e ainda ganhou o seu dinheirinho sendo uma grande costureira das amigas. Para as sobrinhas, costurava de graça. Era o caso de amor revelado em mais de sessenta anos de costura. O amor pela máquina.

O segundo filho veio aos quarenta e dois anos e outra homenagem se deu – Rony, pela obviedade da mesma Jovem Guarda e a lindeza daquele moço que era o Ronnie Von. Aqueles cabelos, então...Ela queria que o filho fosse assim e, desta vez, era bom mesmo que assim fosse, mas o nome....Assim se completou a família com nomes de Jovem Guarda e a mãe dedicada e religiosa.

Nos tempos em que criou os filhos, a tecnologia maior que conhecia era a televisão e as lembranças do finado marido, dançarino como ela. A vizinhança toda sabia quando a saudade apertava : a vitrola tocava boleros e tangos desde as seis da manhã até que o choro viesse e estragasse todo o andamento do serviço doméstico e a louça do café da manhã só seria lavada à noite.

O tempo passou, a tecnologia foi facilitando a vida e envelhecendo a mãe de Martinha, que continuou dançando nas festas de família, de salto alto e tudo, fazendo roupinhas para as netinhas e filhas das sobrinhas, recomendando livros espíritas e acompanhando as mudanças. Passou dos oitenta anos com a mesma facilidade com que passou dos trinta para os quarenta, até que caiu da escada e quebrou um osso que já devia estar quebrado. Ficou um pouco triste por não poder mais lavar a roupa da casa no tanque e nem pirulitar pelas ruas, mas recuperou-se como uma flor que a gente resolve aguar.

Com o advento ( pois, para uma pessoa de muita idade tudo é advento...) dos moldes moderníssimos de comunicação, quando até a neta de cinco anos desenvolveu dedos hábeis para escorregar na tela do Iphone, a mãe de Martinha também adquiriu poderes para tal tecnologia.

Recentemente, ficou muito agradecida quando Martinha lhe mostrou uma foto postada no Facebook e que foi muito curtida e comentada – uma foto onde ela aparecia andando pela praça de muleta e muito preocupada em não trocar os pés pelas mãos nos sobressaltos do chão. Estava com o filho Rony ao lado, já passado pelos anos, e deu para perceber que mãe é sempre mãe : aquele filho, que ela sonhou que tivesse o cabelão do cantor, hoje está careca, não tendo correspondido à previsão da mãe. Martinha, graças a Deus, não tem nada da cantora, o que foi um alívio para a família.

Querendo agradecer às pessoas que a elogiaram nos comentários do Face, pediu para uma das netas que escrevesse um “obrigada” no Ocibuque.

É claro, uma pessoa tão amorosa e dedicada jamais deixaria de fazer um agradecimento.