A Páscoa é o símbolo da renovação da vida, como os cristãos a denominaram a partir da morte de Jesus.
Muito antes disto, porém, os judeus a celebram como o renascimento da vida na terra que tomaram para viver sua liberdade após 400 anos de escravidão no Egito.
São datas misturadas na crença, mas não na sua finalidade.
Jesus, judeu revolucionário como muitos de sua época, acabou revigorando o sentido da libertação do espírito num momento em que as tradições se confundiam num cenário de exaltação que o poder romano exercia num terreno que, como tantos outros que constituiu como império, não lhe pertencia.
Vivemos estas intervenções ainda hoje. Existimos com falsa modéstia dois mil anos depois das declarações mais importantes que o profeta do cristianismo revelou em forma de parábolas. Jesus resumiu o progresso do mundo de então e atribuiu aquele como sendo o tempo correto para expor as ideias de um novo tempo, onde o amor perdoaria e a outra face seria oferecida para que não mais existissem guerras. O cenário pouco mudou desde então. Ninguém entendeu nada.
Mas também pouco se entendeu de qualquer outro profeta. Fosse Krishna, Buda, Maomé. As palavras da época parecem ter sido absorvidas com conta-gotas e diluídas no mar. Revivemos hoje a mesma trama de milênios atrás, extorquindo dos nossos irmãos – dos quais pouco entendemos sua real razão do aprendizado da vida – sua trajetória e desejando inconsequentemente transmudá-los para a nossa própria teoria a respeito do que é ser livre e crente.
Jesus foi preso como traidor das tradições religiosas e porque falou demais.
Àquela época, Jerusalém era território romano, que mantinha autoridades que aplicavam as leis romanas em toda a jurisdição, menos no templo. Para a ordem no Templo de Jerusalém, eram mantidos guardas judeus, leis jurídicas e religiosas judaicas e todo o cerimonial permanecia inalterado, já que Roma não interferia nos assuntos culturais da região que subjugava.
Portanto, pouco importa que guardas judeus prenderam Jesus a mando dos saduceus e fariseus unidos para o que consideravam o “bem” político-religioso de Jerusalém. Pouco importa que saduceus e fariseus existam no mundo todo até hoje, com suas ideias muito parecidas com o que entendemos como direita e esquerda, ricos e classe-média.
Pouco importa tudo isso porque, lá no Sinédrio, eles se uniram para derrotar um homem que incomodava. Preocupados em seguir os critérios políticos de Roma, enviaram um Jesus amarrado e cansado para que fosse resolvida a questão pelos romanos. Final da história, que todo mundo já conhece: crucificação, pena romana para os delinquentes.
Pouco importa quem foi quem nesta história de muitos desvios e pouca execução dos valores espirituais deixados pelo homem lindo e de coragem que deve ter sido Jesus.
Até hoje nos debulhamos em lágrimas no suposto dia do seu nascimento e nos empanturramos de peixe e chocolate no dia de sua morte e, na sequencia, ressurreição.
Estamos aí, aprendendo a viver com as atrocidades cometidas pelos mesmos homens que vivemos tantas vezes, incontáveis vezes, ressurgindo das cinzas para um novo alento de vida nova, perseguindo nossa redenção com tanto medo de olhar para trás e, infelizmente, cometendo os mesmos erros.
Nada é em vão, porém .
A longo prazo, ressurgiremos numa fumaça especial no alto do morro, como Jesus, nas testemunhas vivas de seus apóstolos. Ressurgiremos como seres renovados, como a Páscoa apregoa, no entendimento e na fé, homens com gestos de paz no futuro.
Feliz Páscoa.
3/04/2015