Criar uma Loja Virtual Grátis
O CALOR DAS HORAS
O CALOR DAS HORAS

 

 

Já não basta o calor e o cantor do boteco acha que canta bem, tocando enfurecidamente ora Metallica, ora "era um garoto que, como eu, cantava Beatles e os Rolling Stones...". Desafina andando.
O calor tira o sono, destrói toda a vontade de passar um creminho contra as rugas, desnorteia os neurônios e o cabelo...que não passa de um ninho no cocuruto. Cansativo.
O que seria, exatamente , este calor de janeiro em pleno setembro? El Niño? Zona de convergência do Atlântico Sul? Zona de divergência de algum vento que brecou o caminho suave dos ares do Polo Sul até nossas plagas?
Só sei que suo. O suficiente para querer chamar a polícia e acabar com a festa do cantor desafinado. Que deve estar suando muito para conseguir chegar nos atrozes agudos de sua voz enfurecida.
No calor das horas que passam lentas - sim, o calor deixa tudo lento, modorrento, antiestético - me socorro do bom senso e deixo que toquem, esqueço a polícia. A alegria vale a pena. Os fãs do cantor gritam. Estão amando. Quem sou eu para tirar esse prazer?
Já não me basta o calor que deixa a pele brilhando, duas rodelas vermelhas nas bochechas, o cabelo em forma de espanador e os pés inchados feito uma fornada de
pães ?
Critico o cantor porque é o que me resta numa madrugada de 23 graus rolando. É o que me resta numa madrugada onde nem uma brisazinha sequer dá o ar da graça.
Como assim? O cantor parou? O som sumiu? O boteco fechou? Minha deixa para tentar dormir. Com o calor matando.

 


19/09/2015