Darwin nos deu o que pensar com a sua origem do homem. Para ele - depois de se submeter às agruras de Galápagos e queimar os neurônios para encadear seus experimentos até que se enquadrassem na fantástica teoria da evolução - , nossos antigos macacos, mais propriamente uma linhagem deles, evoluíram para o homem. Opositores apareceram, a Igreja se meteu no imbróglio e o criacionismo, que se apega à Biblia para apresentar Adão e Eva como nossos antepassados legítimos, virou sinônimo de contraposição para a avançada teoria darwinista na qual cientistas do mundo todo se apóiam para direcionar seus estudos.
Nada vale mais para a ciência do que o tempo e a história pontilhando os rumos do aprendizado. Nós, pobres mortais, esperamos sempre que uma nova pesquisa nos traga elementos para adicionar ao nosso parco conhecimento da evolução humana. No cenário de milênios que nos separa da bola de fogo que supostamente teria sido a Terra no seu início, vivenciamos o progresso e a especulação em torno do que arqueólogos e geólogos e biólogos e tantos outros estudiosos criaram sobre os indícios que retiravam das entranhas do planeta.
Das ossadas descobertas e das suas particularidades, foi-nos dada a ideia de que todos os monstrengos jurássicos eram répteis e os vestiram de pele verde, como de um lagarto ou crocodilo, em vez de penas ou uma pele rosada e lisinha. Os nossos homens antigos, pintaram-nos barbudos, cabeludérrimos, cheios de pêlos no corpo, diferentemente dos pelados homens tribais e repletos de macaquices que ainda temos espalhados pelas matas fechadas brasileiras e lugares remotos do continente africano. A transformação do homem teria sido, então, de uma magnitude de escala Richter. De macaco a homem e, enfim, homem eternamente.
Recentemente, arqueólogos descobriram um crânio de quase 2 milhões de anos que se parece muito com vários outros atribuídos a novas espécies. Esta descoberta nos mostra que os homens sempre foram homens, com uma ramificação pronta para a evolução na própria espécie – no fundo, a história de Adão e Eva resumida numa fábula onde a maçã pensa, a serpente ardilosamente monta o esquema e faz a humanidade crescer desvairadamente.
Darwin se superou, como espírito iluminado que era, colhendo da teoria da evolução a base para os estudos prodigiosos que saltariam do nada para o que se conseguiu até hoje em termos de conquista científica. Supondo que todas as coisas se misturem e então nos valeríamos da união do espírito científico e do espírito religioso, obteríamos a certeza dos contos compilados na Bíblia e o sucesso da evolução estudada e descrita por Darwin. Nada por acaso, óbvio. A evolução do espírito, em si, pode ser lida nas páginas de pesquisa do cientista. E a fábula do início da Humanidade, no Paraíso bíblico, plenamente aceitável por sermos homens vindos como espécie própria, com característica e destino certos, preparados para a evolução espiritual de acordo com a evolução periódica dos pequenos animais e vegetais do nosso planeta.
Parece razoável aceitar que, como seres com memória eterna, atreveríamo-nos a remexer nos espaços preenchidos de vidas incontáveis e relembrar o passado glorioso dos caminhos pelos quais percorremos infinitas vezes. Esta viagem nos traria a essência do dinamismo evolutivo do homem ao longo de suas várias civilizações – muitas das quais, acredito, sem ter-nos legado um vestígio sequer – e as conquistas do seu tempo. Como herança, somos o que vivemos e criamos hoje, embora com olhos de futuro e uma grande coceira para invocar o passado.
Para tanto, recorremos aos sítios arqueológicos, ao alento das crônicas bíblicas e ao efeito religioso que delas extraímos para entrevermos o conhecimento de quem realmente somos e de onde viemos. Recorremos à sedução do elo perdido durante mais de 100 anos – e ainda somos seduzidos por ele – para a imaginação fogosa do cenário completo da nossa linha do tempo. Consumidos pela fixação da busca lógica de nossa origem e dotados que somos da perfeição angélica, percorremos com avidez genuína a escada de Jacó, comungando com a ciência evolutiva de Darwin e a pureza narrativa da saga adâmica.
A estrada infinita do progresso tem a finalidade de nos transformar em implacáveis perseguidores do pensamento mutante, que conta com a variação permanente das conquistas de que nos valemos ao longo dos milênios de nossa história pouco conhecida.
O nosso “ elo perdido “ está nas entranhas da terra, sim, e paira além das estrelas, além das nebulosas, além do infinito.