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O BODE DA INFANTILIZAÇÃO
O BODE DA INFANTILIZAÇÃO

Antigamente, desenho animado retratava o ser humano na figura de animal.

Era a fábula, onde todos os bichinhos tinham as graças próprias de bichinhos e misturavam o comportamento próprio com a consciência própria de gente. O politicamente correto ainda não existia e havia os animaizinhos hiper sacanas que fumavam charuto, andavam de bengala, o gato perseguia o rato, o cachorro perseguia o gato e tinha os que se davam super bem e os que se davam muito mal. Havia também bulliyng à vontade. O gambá era enxotado das cenas por ser fedido, o gaguinho era quase um retardado e havia bombas explodindo, tiros arrancando bico do pato, esquilo esperto roubando a noz do inimigo e....tudo era explicado no final, depois de muita risada, mostrando para muitas crianças de muitas gerações o certo e o errado.

Deve ser muito difícil criar um filho no mundo de hoje.  Depois de assistir a alguns desenhos novos, compreendi a razão de a maioria das crianças ser ranheta, manhosa e mimada. Os pais devem dar um duro danado, mas devem perder na competição com os infelizes desenhinhos com bichos de outro planeta, com olhos maiores que o corpo, esponja  falante e sem graça, monstrinhos que além da forma inútil – pois não representa nada - , são como um E.T. de Varginha, bobos e que ensinam as crianças a pedirem sempre com muita insistência, que assim conseguem .

Afora isso, li uma resenha de uma psicóloga que achou um absurdo que fizessem um filme sobre o Cazuza , pois – ela diz – não se deve fazer apologia à vida de uma pessoa completamente desregrada como a do cantor e poeta. Disse ainda que não saberia como explicar para a filha ou o filho – sei lá – que este tipo de vida não é o mais indicado e blábláblá.....

Esta tragédia inventada nos anos noventa do “politicamente correto” causou um mal imensurável  às sociedades  do planeta ! Passaram a sinalizar erros onde sempre existiu convívio natural e sem dramas. Censuraram os charutos das focas bigodudas e mafiosas de Walter Lang e os desenhos atuais esvaziaram de contexto.  Ao mesmo  tempo em que sensualizaram músicas infantis e para adolescentes , acham feio que a vida de uma pessoa, que viveu o que viveu e foi o que foi, seja contada num filme! Que troca de valores é esta ? Um filho deve assistir ao filme do Cazuza e saber que ele fez o que fez e viveu o que viveu com a intensidade que a época lhe reservou e que outros jovens, contemporâneos a ele, viveram algumas coisas mas não com a mesma intensidade que ele! Ou sei lá, não viveram nada! Que seja ! Cada um na sua época e filho foi feito para entender situações, não para viver numa redoma. Também este filho vai viver as suas situações com amigos e conhecidos e  terá  que se valer dos ensinamentos e conversas dos pais para poder tirar suas conclusões sozinho ! Desde muito cedo as crianças já começam a fazer deduções, principalmente quando há rodas vivas dentro de casa....

Para ser correto,  também não vou gostar mais de ouvir Vinícius de Moraes, porque ele enchia a cara de uísque durante os shows e fazia poesias enquanto fumava.

Ney Matogrosso? Jamais ! Rebolava no palco, dançava pintado,  seminu e é bicha ! Que importam a sua voz e seu repertório maravilhoso ?

O bode da infantilização entra exatamente aí.  Não é possível imaginar um mundo desfocado, onde a educação é exigida de fora para dentro. Não é possível que a escola seja a única responsável pela educação dos nossos filhos.  É contraditório esperar que o mundo inteiro se submeta às regras para que nossos filhos possam apreciá-lo. O mundo deve ser dividido e vivido do jeito que é e conseguiu ser até hoje.

Tenho filhos adultos e ainda fazemos rodas vivas na sala, comentando o assunto do momento, cada um brigando por suas posições.  Isso faz com que nos conheçamos um ao outro, desde sempre, sabendo como o outro pensa.

Criança deve brincar de carrinho e boneca até se tornar adolescente e ele se torna completamente adolescente a partir dos 13 anos, e não dos 8, como muitos pais acreditam que os filhos já olham para as bundas e peitos das moças. Na verdade, são os pais que olham e se borram de medo que os filhos não tenham a mesma inclinação sexual que eles. Querem que o menino se projete antecipadamente e veja revista de mulher pelada aos 7...

As mães adquirem um espelho da Rainha da Branca de Neve e olham para as filhas como verdadeiras dançarinas de funk e metem salto alto nos pezinhos em formação, batom nas boquinhas rosadas e carnudas de crianças felizes que se tornarão o retrato da amargura da mãe quando se tornarem adultas. Que espelho fanático e infantil é esse que pais utilizam para proteger seus filhos das pessoas cujas histórias lhes convém como pessoas cultas do mundo e os soltam feito potros num pasto repleto de fofocas, inconveniências  e artificialismos, acreditando que estão ensinando o que está na ordem do dia e esquecendo dos valores mais nobres que revelam as entranhas das pessoas ?

Os criadores dos desenhos animados antigos faziam exatamente isso.  Colocavam sabores humanos nas posturas e palavras nas bocas dos animais antropomórficos e divertiam crianças, adultos e ensinavam  o correto, sem tirá-los da nossa realidade.  

E era muito, muito divertido.

 

 

 

JUNHO/2013