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A ORIGEM DA PALAVRA
A ORIGEM DA PALAVRA

A palavra “pinguelo”é um substantivo comum comumente usado no âmbito familiar.

É, portanto, um substantivo familiar e duvidoso. Acho que ele é mais duvidoso do que familiar. Na verdade, é um substantivo de gosto duvidoso...de gosto familiar duvidoso.

No princípio, “pinguelo”era usado por minha mãe para designar com propriedade o óbvio órgão sexual masculino. Dito para meninos na idade em que amam falar de seus próprios dotes, ela encantava a meninada com aquela palavra horrenda. E horrenda a palavra ficou por muitos anos, dita para somente poucas pessoas e num tom um pouco mais baixo do que o normal.

Com o passar do tempo, porém – e como tudo na vida -, o “pinguelo” passou de subversivo para as primeiras páginas do repertório do núcleo familiar, fazendo número especial nas conversas corriqueiras. Resumindo, era falado em tom bem maior que o sussurro anterior e mais ou menos assim:

- Menino, tira a mão deste pinguelo !

E quando passou realmente a rotineiro:

- Gente, por que este pinguelo tá sozinho na parede? – o que significa uma simbologia bem simples : o primeiro “pinguelo”empregado tinha o seu significado de origem. O segundo já era somente um prego sem utilidade.

Então, agora, penso : a mente humana é engraçada e meiga.

A alusão à palavra “pinguelo” já faz seu cérebro associá-la a uma forma comprida. Portanto, “pipi” e  “pinguelo” se irmanam.

Progressivamente, nossos neurônios constroem um gráfico elaboradíssimo projetando tudo que seja pipi, pinguelo, prego, sinalizador que diz quando o peru está pronto, spots com ou sem lâmpada, cadarço desamarrado, puxador de armário e até mesmo controle remoto, para a mesma qualificação, ou seja, o mesmo sentido fálico – logo, um verdadeiro pinguelo.

E não me diga que não é fácil usá-lo (claro, já ficou até sem aspas...).

No momento crucial de colocar uma pulseira com aquele fecho impossível, o que é mais fácil? Pedir:

- Por favor, você pode me ajudar com este fecho impertinente?

Ou será que assim :

- Por favor, você pode me ajudar com este pinguelo? – não é mais fácil ? Se não o é, pelo menos demonstra integralmente o sentimento de falta de paciência com a situação.

Ou, se não é por nada disso, então é porque é mais engraçado.

Enfim, pinguelo virou sinônimo de “coisa”.

E é exatamente aí onde entra a coisa do gosto familiar duvidoso. A família gosta. Meus filhos, minha mãe e eu parecemos ter um código em que quanto mais horrenda for a insinuação do pinguelo numa frase, melhor fica a conversa. E mais risada tem. Lembra daquele gráfico dentro do cérebro? Nem imagino a quantas ele anda...

Exemplos:

- Me passa o pinguelo de limpar a orelha? ( cotonete )

- Cadê o pinguelo de fazer unha? ( alicate )

- Pra mudar a marcha, filha, basta por o pinguelo pra frente... ( câmbio )

- Mãe, esse pinguelo não para no meu cabelo! ( grampo )

E por aí vai....

 

 

 

 

Texto escrito em março de 2005.