Retiro o que disse: sou um ponto e uma vírgula.
No caso, repudio a clássica defesa de que sou inocente.
Nunca fui tão culpada.
Mereço cada voto contra,
cada palavra nociva,
cada olhar de soslaio.
Agi com inacreditável regra de força selvagem;
de que quem tem maior garra,
melhor desempenho,
maior o ganho.
Venci pela covardia do não.
Quem diz melhor o não, mais valia ganha.
A minha inocência invade, então, a palma da mão livre e exposta,
de quem nada teme,
de quem nada pede a não ser clemência pelo ato impuro.
A inocência se perde quando depuramos a essência do erro.
Sou inocente do ato porque não imaginei o resultado dele.
Sou inocente da trama porque não percebi o conteúdo do vazio que caberia em mim.
Sou um texto passado a limpo, que de nada vale senão pelo erro cometido e reavaliado.
Sou cega pela leitura errônea da vida, pela vida e para ela.
Sou pequena pelo espaço do corpo,
mas garantida pelo exagero da alma.
Sou o ocaso do ínfimo pedaço de crença que me resta...
ainda assim, o extremo de presença que me faz melhor.
Da culpa invadida e do regaço alargado,
o ponto e a vírgula se submetem ao meu compasso,
em que ando bêbada e desvalida em meio a olhos que olham.
O não, dito em águas claras,
resvala na alma e inocenta a pele;
e me corre,
percorre,
pleno,
grande,
palavra-chave para o retorno de mim.
1/07/2018