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DESPERTAR
DESPERTAR

 

Olhar o mundo na sua forma mais nua

Transpor muralhas, frestas, mistérios

Compor o gesto para ceifar o frio

Do medo impune, ingrato, pérfido.

Viver, perpetuar os anos na pele cristada

Destelhar angústias, encobrir sentidos

Minar o bálsamo por não entender o frescor

Cravar a dor por ser mais fácil

Não se permitir o alívio por ter se esquecido.

Olhar o mundo na sua forma mais pura

Nutrir o ritmo dos ventos, águas mornas

Transpor dores na noite que cura,

Morna lua, medo que transtorna.

Indignado, o gesto se encobre, recolhe.

Ingrato, o olhar emudece, umedece.

Retorna o frio pérfido, obra do ocaso

Das horas perdidas na loucura.

Transpor medos no ritmo do vento,

Unhar muralhas na febre do momento

Cerrar frestas com a alma que antes nutria

O medo, as dores, a falsa idéia

De que o alívio não viria antes do fim do dia.

Olhar o o mundo na sua forma mais nua

E permitir-se o gesto que move,

Avança, perpetua.