Olhar o mundo na sua forma mais nua
Transpor muralhas, frestas, mistérios
Compor o gesto para ceifar o frio
Do medo impune, ingrato, pérfido.
Viver, perpetuar os anos na pele cristada
Destelhar angústias, encobrir sentidos
Minar o bálsamo por não entender o frescor
Cravar a dor por ser mais fácil
Não se permitir o alívio por ter se esquecido.
Olhar o mundo na sua forma mais pura
Nutrir o ritmo dos ventos, águas mornas
Transpor dores na noite que cura,
Morna lua, medo que transtorna.
Indignado, o gesto se encobre, recolhe.
Ingrato, o olhar emudece, umedece.
Retorna o frio pérfido, obra do ocaso
Das horas perdidas na loucura.
Transpor medos no ritmo do vento,
Unhar muralhas na febre do momento
Cerrar frestas com a alma que antes nutria
O medo, as dores, a falsa idéia
De que o alívio não viria antes do fim do dia.
Olhar o o mundo na sua forma mais nua
E permitir-se o gesto que move,
Avança, perpetua.