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MENINO PELUDO
MENINO PELUDO

Animal de estimação muda a vida da gente.

Quando o Totti entrou em nossa vida, era pequenininho e peludo feito uma bolinha de lã. Nasceu Shi-tzu e, por isso mesmo, chinês. Chegou com o olhinho meio fechadinho, cheio de franjas e remelinhas, tudo pequenininho, porque era assim aos 3 meses de idade. Era branquinho e beginho escuro. Não sabia que existia nada além do chão e até onde sua cabecinha se movia, praticamente o seu horizontezinho limitado.

Chegou dentro de uma cama enorme para a sua pequena dimensão de mini bebê, cheio de laços.

A emoção foi tão grande que a surpresa ocasiou uma mudança radical e imediata em todos da casa. Um bichinho destes vira parte da família, alimenta o coração e cria uma aura de paciência ilimitada, já que não vai aprender muito além dos primeiros passos do que aprende um bebê humano. Transformamo-nos em tutores de um ser que nos acompanhará para o resto da vida. Literalmente.

Um bichinho de estimação vira filho. A gente briga, mas logo se arrepende e deixa que as coisas nojentas aconteçam. Afinal, ele é limitado. Então, se fez xixi no lugar errado ou cocô por nossa própria preguiça, ah...tudo bem! Quem mandou não levar o coitado pra passear?

Aliás, o fato de ele ser limitado e não ser um filho humano – do qual tiramos o coro e arrebentamos os dentes se fazem coisas erradas – nos deixa livres e amando mais. Amamos nossos bichos porque pouco eles reclamam que sejamos perfeitos. Basta que cuidemos de sua saúde com as vacinas no tempo certo; basta o banho, a comida e a troca responsável da água e pronto! Ele nos ama para sempre.

O Totti dorme embolotado na minha cama. É cheiroso, dengoso e ronca muito. Dorme encostado no travesseiro do meu marido que, ao tentar enxotá-lo com um carinho de “fio, bebezinho do papai, vai pra lá, fiinho, vai? “, muitas vezes escuta um rosnar de reclamação do filho peludo. O cachorro reclama porque tem que sair do lugar que escolheu, sendo que este lugar ele tomou pra si sem pedir licença e, ainda, achamos isso lindo. Tudo o que faz é lindo.

Em cada lugar que vai, faz um cocô pra deixar de lembrança – é o amor que ele tem para oferecer. Beija muito e é interesseiro : comida é o ponto fraco. Gosta de carninha, biscoitinho, bolo de fubá, de chocolate, de milho. Gosta de tudo o que gostamos, pois aninhou-se na família e a tem como referência. Faz tudo do jeito que fazemos, já que a minha casa é um ninho de mafagafinho, todos adoramos sujá-la depois que está toda limpa.

A inteligência destes animais me emociona muito e acredito que a evolução deles se dá a olhos vistos. Totti aprendeu a tomar remédio sem fazer tanto escândalo, pulando no sofá quando o chamo com a seringa da qual me socorro para lançar o líquido na sua boquinha de dentinhos minúsculos. Aprendeu também que o chamo para limpar as orelhinhas e os olhinhos e disso ele gosta mais. Pula no sofá com prazer quando tenho nas mãos uma gaze.

Persisto neste ritual há sete anos e nunca fico irritada, diferentemente do que aconteceu enquanto criei meus filhos humanos, que demoraram muito mais para aprender do que o meu filho peludo. Meus filhos humanos são maravilhosos, mas demoraram quase trinta anos para ser o que são hoje (....) Com menos tempo, criei um bebê que não reclama de mim.

Quando chega visita, ele recebe como dono da casa, cheira, rebola um pouquinho e depois senta no sofá. Ele sabe o que significa “sente-se, por favor”.  Ninguém o tira do seu sossego. Late só uma vez por semana e detesta porta fechada – para ele, não existe restrição de espaço.

Estes bichinhos rebolantes mudam a vida da gente, abrindo um caminho de simplicidade e graça em vários momentos do dia. A simplicidade é o que mais comove, a alegria simples, o gesto simples, o olhar de agradecimento que nos dirige ao receber pequenos agrados.

Ele fica aqui, ao meu lado, grudado nos meus pés enquanto escrevo, ou se empelota nas lãs que deixo espalhadas no sofá, enquanto faço crochê. Tão simples.

O fato de um cachorrinho deste existir na minha vida colabora para a minha felicidade, minha lucidez; faz com que o ritmo dos dias afastem a intolerância e a pressa devastadora; me acorda para a rotina com um olhar adaptado para levá-lo em primeiro lugar ao tapetinho do xixi.

Depois, é só alegria...