Logo no seu início, a Igreja Católica Apostólica Romana era uma cruz, a representação de Jesus no seu sacrifício maior pela humanidade.
Ao julgar-se o propósito de tal simbologia, entende-se o primitivismo com que os apóstolos pós advento do Cristo tiveram que manejar o pensamento ainda infantil dos homens e, passados ainda séculos, como entranhar no coração politeísta a crença em um só Deus. Roma era politeísta. E ainda, mesmo depois de se tornar cristã, perseguiu cristãos e cristãos foram perseguidos por séculos e séculos.
A história gravou trágicas lutas. À Europa, certamente com o perfil mapeado extremamente diferente do que conhecemos hoje, restou registrar as eras de lutas sempre envolvendo as lideranças políticas e a Igreja. Com um pendor pouco louvável de deixar as massas crentes de lado e se engajar no poder, a Igreja permaneceu por mais de um milênio disposta sempre a negociar terras e financiar guerras para se beneficiar do seu espólio. Era a riqueza e o poder se sobrepondo à palavra de Jesus.
Papas eram escolhidos sem nenhuma formação. Eram indicados por reis, que por sua vez ouviam as tramóias de condes, que eram manipulados por uma pequena união das famílias mais influentes da pequena cidade. Eram histórias de mortes súbitas, envenenamentos que saíam de vidrinhos mínimos, pai matando filho, tios matando sobrinhos e irmãos, tudo em nome de quem seria melhor, dentro da Igreja, para a política do pequeno reino.
As Cruzadas vieram para botar fogo no que já estava difícil. Mas a Igreja colocou os aristrocratas dos feudos , muitas vezes, uns contra os outros, pois cada um arrebanhava seus soldados e, a caminho de Jerusalém, era possível imaginar se a direção estava certa pela quantidade de corpos espalhados. Começava o fanatismo, a falta de coerência com os ensinamentos de paz e amor que a Biblía trouxe entre os homens. De nada adiantava o Santo Graal ou a tomada de Jerusalém. Cristãos se debatendo por um cálice.
Com o fanatismo exacerbado, a Igreja, comandada por Papas nem tão engajados na santidade assim, cobrava indulgências de pobres e ricos. Homens de bem, estudiosos que proliferavam nas Universidades recém criadas, começaram o discurso de cisão da Igreja. Entram em cena Jon Huss, em Praga e, algum tempo depois, Lutero. Criaram o protesto contra as indulgências e mais, que a Bíblia não tinha que ser de uso exclusivo da interpretação de padres. Mais perseguição, mais mortes - mas traduções, enfim, e o povo humilde podia aprender a ler com as bíblias. Revolução na educação.
Mas a Igreja daqueles tempos não queria perder espaço. Prelados tornaram-se inquisidores da fé dos cristãos. A arguição dos conceitos dos seguidores da seita de Cristo tinha que seguir um roteiro que passou a se questionado pelas mentes mais afeitas ao próprio entendimento do que o que as leituras das escrituras que os padres interpretavam. Nessa desordem que, vista hoje, é distante e resumida, judeus e toda sorte de servos de Deus que desprezavam quaisquer dos pré-conceitos estipulados pela Santa Igreja eram queimados na fogueira da insensatez.
O mundo demorou a evoluir, mas foi com estas lutas e exageros de lado a lado que o meio termo foi sendo o escolhido para a manifestação cristã dos povos. A Idade Média foi longa e tenebrosa, com vais e vens de idéias, pactos e sórdidos conluios.
Deste resumo absurdo, recolhem-se algumas lições. E é preciso que seja resumido, pois o século XX vai ser posto de lado. Já o vivemos recentemente e ainda temos na memória Papas que se doaram e que foram abrindo campo para que a Igreja de hoje não seja mais a Igreja de ontem. Afinal, os Católicos merecem paz, recolhimento, o “religar”com Deus de forma que não se misturem mais religião e poder.
Vivemos, no Ocidente, em Estados laicos.
A profética bem aventurança dos crentes do mundo existe, pois estamos caminhando para um olhar corajoso e próspero para a união de propósitos das religiões existentes nas várias partes do globo.
E mais no Brasil do que em qualquer outro país, temos a capacidade de nos nutrirmos da fé do outro, escutando as diferenças e nos confortando com a brisa que sopra da palavra de conforto que venha das mais variadas crenças. Somos um povo amalgamador. Temos no nosso DNA a liga certa para espalhar boas novas.
A chegada do Papa Francisco é parte disso, nesta Jornada da Juventude.
A Igreja, para ele, pede reformas urgentes e de porte. A Igreja, para ele, não serve só de casa de oração. A Igreja, para Francisco, é como o foi para o Francisco lá de longe, o santo, que arrancou suas roupas de brocados no meio da praça e prosseguiu na construção de uma igreja pobre e descalça para servir aos pobres.
A fé, neste Francisco argentino, sobra aos montes. Ele vai, com certeza, aproveitar-se das implementações feitas por João Paulo II e por Ratzinger. Francisco, o Papa, vai aliviar o mundo católico do peso das grandes dores da cruz e ensinar que o terço pode com tranquilidade ser trocado por trabalhos em favor do próximo. Muitos e muitos já o fazem, mas falta um quê de menos veneração e mais ação.
Nestes vais e vens que dois mil anos de Igreja Católica fizeram pactos e desdisseram as palavras e atos do Cristo, estamos a um passo para que a reformulação das idéias se postem de forma mais convicta, com estudos que se abram para novas possibilidades de rejuvenescimento. Menos paramentos e brocados – mais pé no chão e estudos que transbordem para a fé lógica, sem receios de que as idéias se abram num leque tão amplo que se fundam com a leis da física, da química, e toda a estrutura universal que nos mantém na Terra.
O caminho das pedras, mantido por todo este tempo em lutas, tem a tendência nítida de que vai se transformar num tapete florido de pétalas.