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JUSTIÇA SEJA FEITA
JUSTIÇA SEJA FEITA

Gostamos de pão e circo, sangue na arena dos touros e seus algozes, sangue dos cristãos perseguidos pelos leões no Coliseu, sangue no palácio.

A manifestação frenética produzida antigamente nas ruas, com os desdentados e famintos reinvindicando alimento e justiça à luz de velas, ainda satisfaz a voracidade dos povos desta nossa era. O sangue deve ser mantido, pois ele é que satisfaz nossa carência pela força dos grandes, pela inteligência dos grandes – e eles que julguem, que levantem armas, que decidam em última instância o enforcamento dos julgados criminosos.

O povo olha, incita e depois julga os que julgaram incitados por eles da mesma forma, como aconteceu a Pilatos. Primeiro, escolhem Barrabás para ser solto. Depois, culpam Pilatos por lavar as mãos.

O cheiro de chacina ainda permanece nas entranhas dos que pedem jaula para os condenados, mas se esquecem que nos Tribunais a justiça se faz não só com alma e caneta, mas com o estudo daquilo que foi elaborado como lei para organizar um país.

Escutar que um Tribunal ouve o clamor público é temer que, dentro em breve, voltaremos com a guilhotina. Incomoda perceber que a imprensa pode impressionar a técnica daqueles que estudaram tanto para esmiuçar e direcionar as leis da maneira mais razoável para que o direito à justiça seja para todos.

Menosprezar este direito que envolve livros e teses, debates e idéias, é padecer no abismo das contradições. A República nos concedeu os três poderes para que deles emanassem o gerenciamento, a legislação e o discernimento; isto é ; Executivo, Legislativo e Judiciário. Dos três, o que não pode ser político é o Judiciário. O que não tem que ouvir o clamor da sociedade é o Judiciário. Ele deve ser imparcial, não cometer o deslize de se intimidar pela imprensa e nem conchavar para deixar que o decano seja alvo dos bombardeios midiáticos.

Em nenhum momento os mensaleiros sairão ilesos do julgamento prestes a acabar. Em nenhum momento aquilo que foi esmiuçado para o Brasil inteiro vai ser modificado na sua íntegra. O fato de haver uma revisão não implica num desdobramento sem consequências de prisões e cumprimentos das penas impostas. O que deve ser colocado em pauta para pessoas leigas como eu e muitos, é que o que for decidido para os poucos culpados pela artimanha política dos recursos financeiros, vai também valer como lei para muitos outros processos que virão. Não se pode tirar o direito de um ser humano de amenizar as sanções que lhe foram impingidas pela correta aplicação dos artigos da constituição que limita os crimes no nosso país. Se existem brechas jurídicas que podem atenuar o sofrimento, que sejam revistas e atenuadas. Se existe lei, que ela seja aplicada na sua forma mais justa e imparcial possível.

Será válido imaginar um país colocando cartazes de “Procurado”, como num faroeste tardio, onde todos eram bandidos, inclusive os caçadores ? Ou será mais conveniente praticar uma justiça onde os caçadores – nós, a massa - sejam realmente respeitáveis, sem nenhum problema de ordem tributária, sem nenhum jeitinho brasileiro iniciado lá atrás, nos confins do Brasil iniciante? Somos um país recheado de jeitinhos.

Como confiar em revistas e jornais que jogam capciosamente com vidas e supostas associações, como se o jornalista escrevesse tranquilamente sobre uma história da carochinha e tivesse toda a liberdade de colocar elementos não verdadeiros na história de uma vida real ?

É preciso repensar sobre a história de nossa sociedade nos últimos anos e acreditar que temos gente honesta e capaz , ainda que, como povo, soframos do mal de procurar um amigo influente para conseguirmos o emprego de muitas vidas.

Se queremos que a justiça seja feita e nos satisfará ver ao vivo pela televisão as algemas e as bolas de ferro acorrentando os mensaleiros e os levando às prisões, que seja então com a consciência limpa de que foi feita a devida correção das penas e que cumpram seu tempo reclusos sabendo do erro que cometeram.